terça-feira, 10 de maio de 2011

Estudo afirma que controle da dengue no Brasil é um fracasso

Um estudo acadêmico afirma que o Brasil tem melhorado o controle de doenças infecciosas, mas classifica a dengue como um dos poucos fracassos. "O cenário para o controle dessa doença não é estimulante", diz o estudo "Sucessos e fracassos no controle de doenças infecciosas no Brasil: o contexto social e ambiental, políticas, intervenções e necessidades de pesquisas". O texto foi escrito por seis pesquisadores - entre eles, o professor Mauricio L. Barreto, do Instituto de Saúde Coletiva e da Universidade Federal da Bahia - e publicado na revista científica "The Lancet", lançada na segunda-feira em evento na sede da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), em Brasília.

"A redução da densidade do (mosquito) Aedes aegypti, elo principal da cadeia de transmissão, ainda permanece como um desafio. Mesmo com investimento de mais de meio bilhão de dólares (cerca de R$ 900 milhões) por parte do governo a cada ano para o controle do mosquito, não se tem alcançado redução da densidade vetorial capaz de limitar ou reduzir a expansão da dengue, de forma sustentada", atestam os pesquisadores.

O estudo considera a dengue "um importante problema de saúde pública no Brasil". Segundo o texto, a incidência da doença tem aumentado desde 1986, com uma sucessão de epidemias. Além disso, é também preocupante o fato de que uma crescente proporção dos pacientes vem apresentando a forma grave da doença, a febre hemorrágica - 0,06% dos pacientes, nos anos 1990, crescendo para 0,38%, entre 2002 e 2008.

A pesquisa também afirma que "três em cada quatro municípios brasileiros estão densamente infestados mosquito Aedes aegypti, o principal vetor da dengue". Ainda de acordo com o texto, entre 2000 e 2009, 3,5 milhões de casos de dengue foram registrados, 12.625 dos quais eram do tipo dengue hemorrágica, com registro de 845 óbitos.

"Urge que se desenvolvam novos tratamentos e vacinas para aquelas doenças que provaram ser de difícil controle", concluem os estudiosos, que apontam falhas pontuais no sistema. "Muitos são os gargalos para a pesquisa na área de saúde pública: os centros de pesquisa biomédicas e de saúde pública estão concentrados na região Sudeste do Brasil, que não apresenta as maiores cargas de doença; os procedimentos administrativos para importação de equipamentos de pesquisa são longos; as empresas privadas investem pouco em pesquisa; poucas pesquisas no Brasil geram patentes internacionais ou se traduzem em intervenções implementáveis", afirmam.

Seria necessário, portanto, mais pesquisas, "melhores tratamentos, diagnósticos rápidos e métodos inovadores de controle de vetores", diz o texto. Para os pesquisadores, também há problemas no controle da leishmaniose visceral. "Cerca de 70% de todos os casos de leishmaniose visceral na América do Sul acontecem no Brasil", lamenta o estudo.

Os pesquisadores atestam o sucesso do governo em controlar doenças como cólera, diarreia, doença de Chagas, tétano e poliomielite, com tratamentos disponíveis na rede pública hospitalar e postos de vacinação gratuita. O estudo tece elogios ao programa de controle de HIV/AIDS, "o maior distribuidor de medicamentos antirretrovirais gratuitos em todo o mundo". A revista também publicou estudos sobre saúde materna e infantil, doenças crônicas no Brasil e as decorrências da violência e dos acidentes de trânsito.

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